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Sensação de febre pós-exercício divide explicações
Imagine ser triatleta. O treino é intenso, você precisa literalmente suar a camisa para ter uma boa posição e mesmo depois de completada a prova, seu corpo continua quente e passa um tempo desta maneira.
Os pesquisadores costumavam dizer que isso era um bônus da atividade física – que você queima calorias não só quando se exercita, mas durante as horas seguintes, até mesmo pelo resto do dia.
Mas aí apareceu a oposição, relatando que esse efeito não passava de mito. E as opiniões ficaram divididas.
“Uma coisa nós sabemos com certeza: seu metabolismo vai às alturas quando você se exercita”, disse Nisha Charkoudian, professora-associada de fisiologia da Faculdade de Medicina da Clínica Mayo, de Minnesota. “Aí, quando você para, a coisa interessante que não compreendemos é que sua temperatura corporal permanece elevada por umas duas horas.”
O efeito depende da intensidade do exercício. Se você sair para caminhar, sua temperatura não subirá muito, explica a professora.
Criou-se uma máquina
Intrigado, Glenn Kenny, professor da Escola de Cinética Humana, ligada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Ottawa construiu uma máquina de US$ 1 milhão – única no mundo, segundo ele – capaz de mensurar minuto a minuto as mudanças na perda de calor do corpo, durante e depois do exercício.
Kenny descobriu a razão para o estado febril que surge quando a temperatura do corpo se eleva: não é porque você continua queimando calorias no mesmo ritmo durante o exercício, mas porque o organismo tem dificuldade para se livrar do calor extra que foi gerado.
A dissipação do calor cai bastante depois do exercício; por alguma razão, o corpo aparentemente não consegue se livrar do calor extra que foi adquirido.
Kenny acha que o efeito está ligado ao impacto do exercício sobre o sistema cardiovascular. Mas, mesmo que você se sinta quente, não está queimando mais calorias, diz ele, e, portanto, não está perdendo mais peso.
Com base em outros estudos, em que ele mensurou os ritmos metabólicos, ele refuta a ideia de que o exercício poderia aumentar também o ritmo em que as pessoas queimam calorias durante as horas seguintes.
Concluiu que qualquer efeito sobre o metabolismo após o exercício era muito pequeno e não duraria mais do que cinco minutos.
Só que as pessoas examinadas no estudo não eram triatletas, por exemplo.
E com atletas experientes?
Esse foi o estudo de LaForgia. Fisiologista do exercício da Universidade do Sul da Austrália, diz que pessoas que se exercitam intensamente – dando repetidos piques de corrida, por exemplo – podem experimentar um efeito metabólico prolongado.
Sua taxa metabólica pode subir e continuar elevada por até sete horas depois do fim do treino.
Mesmo assim, as calorias queimadas eram cerca de 10% das calorias queimadas durante um exercício intenso.
Quanto às pessoas que se exercitam moderadamente, como a maioria, o pequeno aumento do metabolismo durava não mais do que duas horas e representava apenas cerca de 5% do total queimado durante a atividade.
E, como um treino modesto não chega nem perto de um intenso em termos de calorias queimadas, pessoas que se exercitam modestamente acabavam com pouquíssimas calorias extras eliminadas posteriormente.
Mas isso ainda deixa uma questão. Se o ritmo metabólico aumenta tão ligeiramente, por que você se sente quente por até sete horas após uma atividade longa e desgastante?
LaForgia diz que não estudou as sensações de calor, e Kenny diz que, se alguém se sente quente por tanto tempo, isso não é efeito da dissipação retardada de calor.
A sensação pode ser causada por outro efeito do exercício – o esforço do organismo para reparar os sutis danos que todo exercício causa aos tecidos.
O sistema imunológico pode entrar em ação, junto com as enzimas que restauram os músculos e que exigem uma energia que gera calor – e nesse caso, não seria queima de calorias.